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  • Foto do escritorCarolina Oliveira

Quanto tempo dura uma análise?

Atualizado: há 4 dias


“Eu quero resolver um problema, não ficar anos falando da minha infância”, e o estereótipo da psicanálise.


Freud, no texto “Sobre o início do tratamento (1913)”, aborda essa questão e a responde da seguinte forma “responde-se como o Esopo na fábula respondeu ao andarilho, que pergunta pelo comprimento do caminho, com a seguinte conclamação: ‘Anda!’, e explica a informação com a justificativa de que primeiro se precisa conhecer o passo do andarilho, para depois poder calcular a duração da caminhada”.


Entretanto, logo acrescenta que essa comparação não é totalmente justa, pois o neurótico pode mudar sua velocidade em determinado momento e fazer progressos muito pequenos. A grande questão é que nossas questões psíquicas não surgiram do dia para a noite, não existe retirar a questão e você continuar vivendo da mesma forma, ou abrir um corte, retirar o nódulo e a cura está aí.


Penso que temos uma percepção equivocada do que significa nossas dores, angústias e sintomas, uma percepção que de alguma forma as coloca como algo externo a nós, “então falarei da minha infância, descobrirei o culpado e, portanto, me curo do que sofro” ou “falo do que sofro para que isso, que é diferente de mim, possa ir embora” e nessa, existe uma desimplicação do sujeito no próprio sofrimento.

Freud escreve neste mesmo texto que “ninguém esperaria levantar uma mesa pesada com dois dedos, como se fosse um banquinho, ou que se construa uma casa grande no mesmo tempo que uma cabaninha de madeira”, acontece que ao falar de mesas, casas e cabanas temos a dimensão de seu tamanho e, portanto, intuímos sem surpresa o tempo e trabalho necessário para o sucesso de tais feitos, mas ao falar das neuroses, desconhecemos sua etiologia (suas causas) logo, a colocamos no campo do estrangeiro (estranho, forasteiro), algo fora de nós, “que não se sabe de onde veio, e por isso se espera que um dia terá desaparecido”.


“Vou te contar do que sofro e você, com seu vasto conhecimento, vai tirar isso de mim”, mas não estaria você implicado nisso que te causa sofrimento? Quero dizer que você responde ao mal-estar em sua singularidade, você tem a ver com isso que te incomoda, não existe outro caminho, outro olhar, o mal-estar não vem de fora, e se não vêm de fora, não tem como tirá-lo de forma rápida e desimplicada, seus sintomas, seus comportamentos, suas formas de operar no mundo dizem de você e dos seus movimentos internos, então é preciso tempo; tempo aliado ao trabalho analítico.

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