top of page
  • Foto do escritorCarolina Oliveira

Psicanálise e Psicoterapias

Atualizado: há 4 dias

Quem busca por um psicólogo tem muitas dúvidas quanto a diferença da psicanálise para as outras psicoterapias, certamente não é uma resposta fácil, já que existem inúmeros tipos e caminhos no campo psi. Mas para exemplificar, Freud tem uma passagem, que eu adoro, no texto "Sobre Psicoterapia" (1905 [1904]), no qual ele diferencia as técnicas sugestivas e a técnica analítica recorrendo a uma fórmula utilizada por Leonardo da Vinci no campo das artes, sendo ela: per via di porre e per via di levare.

Para Da Vinci, a pintura trabalha per via di porre (por via de colocar), visto que se coloca tinta onde antes não tinha, enquanto a escultura trabalha per via di levare (por via de retirar), uma vez que retira da pedra o superficial, aquilo que está por cima, para revelar a “superfície da estátua nela contida”.


Pensando nisso, quando um paciente procura por um processo terapêutico ele vêm carregado de questões, problemas, sofrimentos e com a expectativa de os resolver. Frente a isso, existem incontáveis formas de trabalho, algumas deles perpassam por sugestões, conselhos e explicações rasas. Na época em que Freud escreveu esse texto a técnica a que ele se referia era a hipnose, na qual o terapeuta influencia o paciente mediante uma ordem ou sugestão, ele próprio desistiu desse caminho, pois ela "nos encobre a percepção do jogo de forças psíquicas, por exemplo, não nos permite reconhecer a resistência com que os doentes se agarram à sua doença, portanto, com que também são avessos à cura.”


Embora Freud tenha desistido da hipnose, muitos trabalhos terapêuticos derivaram desse conceito e seguiram na mesma direção sugestiva. Isto é, per via di porre, uma vez que trazem algo que fora, algo do terapeuta para o paciente, algo que não estava ali antes, e o problema é que embora possa ter algum efeito superficial, de alívio momentâneo do sofrimento, não resolve suas causas, não olha para os efeitos na vida do sujeito, não o implica na questão (porque de alguma forma temos a ver com aquilo que nos causa sofrimento).

Do contrário, a psicanálise, trabalha per via di levare, “a terapia analítica, por sua vez, não quer aplicar nada, não quer introduzir algo novo, mas quer tirar, extrair”, extrair no sentido de possibilitar um espaço, por meio de uma escuta especializada, para que o paciente possa indagar mais a respeito das motivações inconscientes que sustentam suas feridas psíquicas. Caminhamos com passos para subverter as certezas e indagar os lugares aparentemente concretos.


Pense dessa forma, nossas questões psíquicas (dificuldades nos relacionamentos, no trabalho, nossa forma de funcionar e de lidar com as situações que se apresentam na vida) não são aleatórias, mas foram construídas e, muitas vezes sua gênese fica esquecida (recalcada), não seria uma sugestão ou uma leitura superficial que as “solucionaria”, menos ainda é pelo caminho de explicar “você é assim, por conta disso”, mas de retirar ou subtrair da mesma forma que se faz com a escultura, queremos ver o que pode existir embaixo do que está sendo dito, buscar outras possibilidades de existir além dessa a que o sujeito tão fortemente se agarra, mas não o faz à toa, o faz porque de alguma forma o serve, o mantém nesse lugar que embora incomodo, também é confortável.


É nisso que estamos interessados, nas resistências, na transferência, nas repetições, etc., algo que só pode emergir do sujeito e não de fora dele. Não é ao acaso que Freud afirma “que o método analítico da psicoterapia é aquele que tem o efeito mais profundo, de maior amplitude e através do qual se atinge a mais considerável modificação do paciente”


11 visualizações

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page